O meu filho recebeu de presente um caderno com muitas páginas. Foi o pai que lhe deu. Eu também recebi um. Gosto de receber cadernos. O puto também gostou. Passados uns dias veio ter comigo e disse: "estou a usar o caderno do pai como o meu caderno especial, para escrever as minhas coisas".
Ele sabe que isso me deixa feliz. Porque há anos que insisto com ele para que deixe registados os seus pensamentos, os poemas, os raps, os disparates maravilhosos que vive a espalhar pelos cantos e depois se dispersam na espiral do esquecimento. O meu filho é igual a mim. O meu filho é muito melhor do que eu. Mas partilha comigo o amor das palavras. Gosta de brincar com elas, experimentá-las, desafiar o(s) seu(s) sentido(s). Gosta delas todas, das novas e das antigas, das formas arrevezadas, engraçadas, trágicas ou líricas de dizer. Mas tem tendência a deixar fugir as formulações brilhantes que parecem brotar incessantemente do seu interior como se de um campo fértil se tratasse. Como se o habitasse um espírito feito de vegetação luxuriante. Palavras e mais palavras.
Palavras e mais palavras nascendo e crescendo como hera, como folhas, como ramagens, como árvores trepadeiras, frondosas, ocupando todo o espaço... mas as palavras têm de ser escritas. Pois se não fixamos as suas combinações nessa terra nutritiva que é o papel, elas crescem desordenadamente como aquelas árvores que estão no quintal abandonado ali atrás do meu e que ocupam o espaço todo e nos tapam o sol e nos dão cabo da roupa e nos querem entrar pela janela dentro e nos encham tudo de folhas e dão connosco em loucos...
A minha filha também vai pelo mesmo caminho. Ou talvez não. Porque ela gosta é de letras. Dos 'A', dos 'R', dos 'S'. E de números. E de carros. E de animais. Mas gosta de letras. De as escrever, de as desenhar. De as descobrir nas palavras. Palavras. Palavras e mais palavras.
Palavras. Letras. Palavras. Não sei com o que se parece o código genético mas dá-me ideia que há de ser um conjunto de letras e números. Acho que aquele que carrego comigo e transmiti aos meus filhos é feito de palavras...
Mas então dizia eu que o meu filho recebeu do pai um caderno com muitas páginas. Gostei que o pai lhe oferecesse um caderno. Gostei que me oferecesse um a mim. Gosto de receber cadernos. O puto também gostou. Passados uns dias veio ter comigo e disse: "estou a usar o caderno do pai como o meu caderno especial, para escrever as minhas coisas". E eu: "Assim tipo um diário?". E ele: "Não, mãe, um caderno especial, para escrever as minhas coisas". E eu: "Mas isso é um diário". "Um diário é para escrever todos os dias e eu não escrevo todos os dias", ripostou. Disse-lhe que não era bem assim, que muitas vezes as pessoas tinham diários e não escreviam neles todos os dias. Mas acho que não fui honesta. Um diário, claro que sim. Um diário é para escrever todos os dias. E as coisas importantes têm de ser escritas.
Ele sabe que isso me deixa feliz. Porque há anos que insisto com ele para que deixe registados os seus pensamentos, os poemas, os raps, os disparates maravilhosos que vive a espalhar pelos cantos e depois se dispersam na espiral do esquecimento. O meu filho é igual a mim. O meu filho é muito melhor do que eu. Mas partilha comigo o amor das palavras. Gosta de brincar com elas, experimentá-las, desafiar o(s) seu(s) sentido(s). Gosta delas todas, das novas e das antigas, das formas arrevezadas, engraçadas, trágicas ou líricas de dizer. Mas tem tendência a deixar fugir as formulações brilhantes que parecem brotar incessantemente do seu interior como se de um campo fértil se tratasse. Como se o habitasse um espírito feito de vegetação luxuriante. Palavras e mais palavras.
Palavras e mais palavras nascendo e crescendo como hera, como folhas, como ramagens, como árvores trepadeiras, frondosas, ocupando todo o espaço... mas as palavras têm de ser escritas. Pois se não fixamos as suas combinações nessa terra nutritiva que é o papel, elas crescem desordenadamente como aquelas árvores que estão no quintal abandonado ali atrás do meu e que ocupam o espaço todo e nos tapam o sol e nos dão cabo da roupa e nos querem entrar pela janela dentro e nos encham tudo de folhas e dão connosco em loucos...
A minha filha também vai pelo mesmo caminho. Ou talvez não. Porque ela gosta é de letras. Dos 'A', dos 'R', dos 'S'. E de números. E de carros. E de animais. Mas gosta de letras. De as escrever, de as desenhar. De as descobrir nas palavras. Palavras. Palavras e mais palavras.
Palavras. Letras. Palavras. Não sei com o que se parece o código genético mas dá-me ideia que há de ser um conjunto de letras e números. Acho que aquele que carrego comigo e transmiti aos meus filhos é feito de palavras...
Mas então dizia eu que o meu filho recebeu do pai um caderno com muitas páginas. Gostei que o pai lhe oferecesse um caderno. Gostei que me oferecesse um a mim. Gosto de receber cadernos. O puto também gostou. Passados uns dias veio ter comigo e disse: "estou a usar o caderno do pai como o meu caderno especial, para escrever as minhas coisas". E eu: "Assim tipo um diário?". E ele: "Não, mãe, um caderno especial, para escrever as minhas coisas". E eu: "Mas isso é um diário". "Um diário é para escrever todos os dias e eu não escrevo todos os dias", ripostou. Disse-lhe que não era bem assim, que muitas vezes as pessoas tinham diários e não escreviam neles todos os dias. Mas acho que não fui honesta. Um diário, claro que sim. Um diário é para escrever todos os dias. E as coisas importantes têm de ser escritas.
Não sei se é genético ou não, creio que sim, mas a verdade é que eles crescem no meio dessa tal floresta de árvores que dão palavras em vez de frutos e é um sítio tão mágico e encantador que eles hão-de de sempre amá-lo, mesmo que sigam outros trilhos.
ResponderEliminarQue lindos textos tens aqui, querida Myriam!!!! E o "puto" vai pelo mesmo caminho, então! Beijinhossssssssssssssss
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