quarta-feira, 4 de maio de 2011

Afinal o que é que eu quero fazer?

Era uma vez uma menina…

Ou então

No princípio era o verbo. Um verbo interior, tenso, ansiando por saltar cá fora. Preso, doloroso. Um verbo magoado, covarde. Verbo-escondido-com-rabo-de-fora. Mas um verbo ainda assim necessário, urgente.

E um dia, a menina descobriu na internet um admirável mundo novo. Um instrumento, um suporte que lhe permitia – isso só o percebeu mais tarde – ultrapassar uma série de bloqueios instalados há tempo demais. Estranho, não é?

Mais que os cadernos guardados nas gavetas, mais que os papéis, as notas mentais, os ficheiros Word, mais que tudo o que tinha experimentado até então, a blogosfera conseguiu ser, durante algum tempo, o meio, no sentido espiritual do termo. Através dela, conseguiu voltar a escrever. Ou deveria dizer antes: começar a escrever? Escrever de dentro para fora e não o contrário. Escrever sem barreiras, sem medos, expor-se e descobrir que o pudor se desvanecia a pouco e pouco. Mesmo quando as personas do outro lado do ecrã se revelavam e ela própria se dava em troca. Deixando-se ir na correnteza, na bebedeira, sem arrependimentos. Uma espiral de revelações, a libertação, os fantasmas a sair e a acenar, sorridentes. Afinal era só isto? Tanto e tão pouco. Eu. Eu assumindo quem sou, eu para fora e para mim. Eu despertando do sono dos séculos. Eu vindo ao de cima, descobrindo-me, destapando-me. Eu, sim, eu.


(continua)

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