quinta-feira, 7 de outubro de 2010

104.3, a frequência

É de noite, tarde cheguei a casa, estacionei o carro, não saí. É outono. Chove lá fora. A rádio é a CMR. 104.3, a frequência. Tu no teu quarto, eu no meu. Unidos pelo éter, ouvindo as nossas músicas. Sentada ao volante do carro, estou de volta ao meu quarto. Eu no meu quarto que me ajudaste a conquistar, no meu espaço, tão teu. Tu no teu quarto, ou na sala, já não sei. Eu entrando sorrateira no quarto dos meus pais, trazendo o telefone. Era de noite, tarde, muito tarde. O rádio ligado. 104.3, a frequência. O telefone ligado à ficha do corredor, o fio esticado até à cabeceira da cama. Ligados pelo 104.3. Just Like Heaven, o telefone toca. Nem chega a tocar. Estás aí? Estou pois. Chove lá fora. Ao volante do meu carro, nem me mexo, para não deixar quebrar o encanto. Estás aí? Deves estar. É outono. Chove lá fora. A rádio é a M80. 104.3 a frequência. Eu no meu carro, tu numa estrela. Numa nuvem talvez? Unidos pela eternidade, ouvindo as nossas músicas. Vou para casa. Tenho o telefone, o telemóvel, o computador. Tenho o quarto e a sala. Chove lá fora. Chove... tanto! E conforme a escrevo a chuva amaina, amansa para dar passagem ao avião. Escolheu este momento preciso para se manifestar. Sorrio-te. O último avião da noite. Ou talvez o primeiro da manhã. Uncertain Smile. É tão tarde.... E eis que chove a bom chover. O telefone não vai tocar esta noite. Vou ligar a M80. A chuva parou. It's all in the game. Estás aí? Estou pois.

3 comentários:

  1. O tempo lá fora brinca com o tempo daqui de dentro. Não chego a casa molhado nem seco, não vou para o quarto ou para sala, talvez chegue húmido ou assim fique por ver as estrelas da minha varanda. É para lá que vou quando chego a casa, quer chova quer não, faça o tempo que fizer, tenho o tempo que tiver. É de lá que vejo a vida a passar pela calçada como se a minha nada fosse como sem existisse. Só depois quando leio este tipo de curtas ou vejo um daqueles filmes que contam a vida das pessoas no ecrã tal qual as nossas na calçada é que me lembro e apercebo que... eu vivo também.

    ResponderEliminar
  2. Que belo momento, primeiro o teu texto, depois o comentário do Huck. Vou sair a pensar que talvez também esteja viva.

    ResponderEliminar
  3. Luz? Jane?... Vivinhos da Silva.
    :-) Huckies

    ResponderEliminar